100 anos de Malcolm X: ativista dos direitos humanos e líder na luta contra o racismo
Neste ano do centenário, é lançada a coletânea “Custe o que custar”, reunindo discursos, cartas e entrevistas de Malcolm X no último ano de vida

Neste 19 de maio de 2025, é dia de comemorar 100 anos do nascimento de Malcolm X, líder afro-americano assassinado em 1965 e cuja trajetória segue reverberando em movimentos negros ao redor do mundo. Reconhecido por sua oratória potente e visão estratégica sobre o racismo estrutural, Malcolm X é também referência central para a cultura hip-hop.
Nascido Malcolm Little, em Omaha, no estado de Nebraska (EUA), em 1925, ele teve uma infância marcada pela militância dos pais e pela violência racista. Após ser preso por roubo em 1946, mergulhou no estudo autodidata dentro da prisão e aderiu à Nação do Islã, na qual passou a se destacar como principal porta-voz. Foi nesse período que rejeitou o sobrenome associado à escravidão e adotou o “X”, símbolo das identidades apagadas pela diáspora africana. Em 1964, rompeu com a organização religiosa, fundou a Muslim Mosque e passou a defender a solidariedade internacional e o diálogo inter-racial — sem abrir mão da centralidade da luta antirracista.
Neste ano do centenário, a Ubu Editora, em parceria com a Supersônica, lança a coletânea “Custe o que custar”, reunindo discursos, cartas e entrevistas de Malcolm X no último ano de vida. A publicação, com tradução de Rogério Galindo, chega ao público brasileiro acompanhada de um audiolivro narrado por Roberta Estrela D'Alva. O lançamento reforça o interesse renovado sobre sua trajetória e pensamento, que permanecem vivos na cultura popular e nas letras do rap.
O impacto de Malcolm X na formação da consciência política do hip hop é reconhecido por nomes centrais do movimento. Suas ideias aparecem em rimas de Racionais MCs, GOG, 509-E, RZO, Thaíde, Rappin Hood, entre outros. Mais do que citações, sua figura ajudou a consolidar no rap brasileiro uma linguagem direta, insurgente e anticolonial. Para artistas de gerações mais recentes, como Diomedes Chinaski, Dexter e KL Jay, ele representa não apenas uma influência histórica, mas uma referência ética sobre como transformar vivência em discurso político.
Malcolm X foi morto a tiros, aos 39 anos, antes de realizar um comício em Nova Iorque. Deixou seis filhas e dezenas de discursos registrados. Em tempos de revisionismo histórico e disputas de sentido dentro do próprio hip-hop, relembrar Malcolm X é reafirmar o que o rap sempre soube: que a palavra, quando tem direção, se torna arma contra o silêncio imposto.
Camila Piacesi, jornalista
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