Calado (RZO) e Sombra (SNJ) se unem e lançam faixa O Sopro
A música critica a invasão do rap e da cultura hip-hop pelo modismo e por interesses comerciais, e exalta o verdadeiro movimento, feito com compromisso e comprometimento, riqueza de mensagens e diversidade.

O rapper Calado (RZO – Rapaziada da Zona Oeste) e o lendário Sombra (SNJ - Somos Nós a Justiça) lançaram no início do mês a faixa O Sopro, um protesto contra a imagem atual do rap, a invasão do movimento pelo modismo e também uma exaltação ao movimento, ao compromisso social, à voz das favelas e das periferias mundiais, à riqueza e à diversidade da cultura hip-hop.
Com uma atmosfera dramática e um tanto sombria, a faixa começa com a fala de um dos maiores ícones da cultura hip-hop no Brasil – o eterno Sabotage, ressaltando que o verdadeiro rap (rh and poetry – ritmo e poesia) carrega em sua essência o compromisso com os fatos e com a realidade, com a representatividade, com a luta em prol da igualdade e as demandas coletivas, com a liberdade de expressão, com a ascensão econômica, política e social dos povos das periferias em todo o mundo.
“Pode crer, mano. Essa é a sigla. A quadrilha se une pra fazer a fita. Ae, o rap tem que ter raiz, ‘tá ligado’. Não por nada não, ‘morô’. Mas tem ‘uma pá’ de cara cantando rap aí, os caras falam do sofrimento. Agora eu falo pra você, se eu fosse falar de tanto sofrimento, o meu tempo não dá”, inicia a faixa, procedida pela voz marcante de Sombra (SNJ): “Munição sangrando, etc e muito mais”.
Em protesto contra a atual situação do rap e da cultura hip-hop, invadida pelo modismo e por interesses pessoais e comerciais, o rapper Calado (RZO) descarrega a artilharia contra um sistema motivado por ganância e desejos meramente financeiros.
“Estamos em decadência, em evidência. Explosões, em 2020, tretas. Muita treta, dizem que isso é rap. Pra mim, um bando de lambe saco, muita pose. Da boca do leão, o veneno da flor leva uma nova ideia, delicada, ‘morô’? Os ‘moleque’ bom, a porra do dinheiro, tanque cheio. Corações vazios, presos no próprio sonho”, crítica Calado (RZO), no início da track O Sopro.
Exaltação ao compromisso, à riqueza e à diversidade do rap e da cultura hip-hop
Em um movimento inverso de exaltação à essência e à riqueza do rap e da cultura hip-hop, Calado segue sua manifestação lírica.
“Vencedor na quebrada distante, onde a vida é um sopro, um instante. Resistência você vê no semblante”, precedendo os versos cantados por Sombra (SNJ), mais uma vez com muita expressão, vigor, timbre, dramaticidade, entonação.
“É ‘mó’ disposição, é cena que segue. Foco na vivência representa o rap”, afirma o rapper de São Paulo, continuando: “É rima de milhão, algoritmos em cheque. Sem pegar, pisa fofo nos anos 2000. Diversidade nas quebradas, rap do Brasil. Mas o conceito cultural pede paz. Munição sangrando, etc e muito mais”.
Sobre os holofotes da imprensa no movimento hip-hop, Sombra resume e sintetiza: “Câmeras vigiando o rap nada hostil, escorrendo sangue na faixa do vinil. Boto fé, poesia, hip-hop eu danço. É cheio de swing, o marginal balança”, diz um dos trechos da faixa O Sopro, mais um lançamento potente e realista, que une dois grandes ícones do rap em uma track sincera e explosiva, que caiu nos radares da rádio West Side.
Cleber Negão – Jornalista
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