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Stefanie lança Bunmi, seu primeiro disco solo repleto de faixas poderosas

Álbum celebra 28 anos de carreira no rap, retratando a presença feminina nesse universo e em toda a cultura hip-hop.

Stefanie lança Bunmi, seu primeiro disco solo repleto de faixas poderosas
Stefanie lança Bunmi, seu primeiro disco solo repleto de faixas poderosas (Foto: Reprodução)

Celebrando seus 28 anos de carreira no rap, Stefanie, rapper de Santo André, região metropolitana de São Paulo, lança o seu primeiro disco solo intitulado Bunmi, que no idioma iorubá significa "meu presente".

Com 10 faixas inéditas e produção de Daniel Ganjaman e Grou, conhecidos por trabalhos realizados com Sabotage, Criolo, Baiana System, entre outros, o disco fala sobre temas diversos, como preconceito, superação, valorização, reconhecimento, perseverança.

“Vou contar uns episódios que dão até uma minissérie. O primeiro que eu me lembro foi lá na segunda série. Quando a gente é criança não se tem entendimento, mas já sentia na pele o diferente tratamento”, diz a rapper, em um dos versos da faixa Desconforto, que expressa de forma impactante as experiências de preconceito e racismo sofridas pelas mulheres negras no cotidiano.

“Tinha poucas amizades, andava com a Mariana. Minha aliada do primário, lembrava uma indiana. E um certo dia aconteceu uma situação que foi tão desagradável que nos deixou sem reação. Tinha rolado uma festinha e não recebemos convite, desde cedo já existe pessoas que nos evite. Do nada uma aluna chega e fala, vocês não foram convidadas pra festa da Clara porque você é preta e a Mariana é gorda, num tom maldoso nem se preocupou em fazer sala”, reflete Stefanie, na track Desconforto.

Outro destaque do disco, recheado de tracks pesadas, autoafirmativas e pulsantes e lançado em parceria com o selo Jambox, por meio do edital Natura Music, é a faixa Não Pira, onde a rapper aborda o tema da persistência e perseverança para alcançar suas metas, sonhos e objetivos.

“São tantos sonhos que alguns já tinha esquecido. Se tivesse tido condições, como tudo teria sido. Tantas tentativas sem sucesso, é que as oportunidades que você já teve eu nunca tive acesso. Como pensar em progresso se a ordem é de despejo, porque o olhar vazio das minhas irmãs é o que eu vejo”, expressa Stephanie, nos versos da música Não Pira.

“Como ganhar o mundo faltando perspectiva, se pra sobreviver de quantas coisas nós se priva. Sem escola privada e nem curso de inglês, a nossa realidade é diferente de vocês. E o caminho da felicidade ainda existe, mas com tantos obstáculos quantas de nós desiste. Não venha me falar que falta determinação, se pra estudar às vezes faltou até o da condução”, desabafa a rapper.

Disco repleto de participações de peso


Referência atual do cenário do rap e do hip-hop, Stefanie expressa toda a força da presença feminina no universo da cultura periférica e underground.

Retrato disso é o time de peso que participa do disco da artista, como Emicida, Ludji Luna, Rincon Sapiência, Rashide, Nega Gizza, Cris SNJ, Kamau.

O álbum conta ainda com feats de Rodrigo Ogi, Mahmundi, Iza Sabino, Jonathan Ferr e da chilena Ana Tijoux.

“O disco é a celebração de cada passo que dei, das batalhas que venci e dos sonhos que ainda estou conquistando. Conseguir chegar até aqui, com certeza, é uma das minhas maiores vitórias”, afirma Stefanie, completando.

“Este álbum é meu presente para o mundo, fruto da minha história e da minha alma. Cada verso carrega um pedaço de mim, e eu espero que ele toque quem ouvir, assim como ele me tocou ao ser feito. Cada vivência e cada passo que dei contribuíram para a formação da artista que me tornei e para o que este trabalho representa”, finaliza a rapper.

É de fato um trabalho que deve estar no radar dos críticos e do público que consome e faz parte da cultura do rap e do hip-hop, por seu potencial, impacto e relevância no momento e na cena.




Cleber Negão, jornalista.

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