A286 e Lauren Priscila lançam faixa e o clipe de Nota de Pesar

Com mensagem direta e explícita, a track e o vídeo abordam temas contemporâneos e atuais, desde a comercialização do rap e do hip-hop até o uso de Inteligência Artificial (I.A), expondo a essência do movimento e a artificialidade das redes sociais.

O grupo A286, fundado em 1997 no bairro Jardim Noronha, no Grajaú (SP),  se uniu à rapper Lauren Cristina, conhecida por suas passagens pelos grupos Visão de Rua, RZO, Consciência Humana e também por sua carreira solo, para lançar no último domingo (11/05) a música e o clipe "Nota de Pesar".

A poesia em forma de versos e a versatilidade da letra traduzem a potência da parceria entre essas duas grandes referências do rap, proporcionando uma reflexão sobre a essência do rap, a realidade e o momento atual do cenário do hip-hop no Brasil e no mundo.

“Meus versos não são apenas aforismo paradoxal, transformei o pessimismo em uma lente pra enxergar a real. A vida dedicada a lírica insisti. Embora sombrio, libertador. Como a filosofia de Nietzsche. Errou quem me rotulou “depressivo” sem considerar que depressão é luxo, eu não tive tempo pra chorar. Eu sou uma ameaça, eu altero resultados. Compreensivo não ver a cara nas grandes mídias de fato”, rima Reinaldo, do A286, em tom crítico, convicto e autoafirmativo, uma das características do grupo e de suas letras.

Crítica social e aos tempos modernos, baseado no uso constante e excessivo das redes sociais 

Em manifesto lírico aos tempos atuais, onde as pessoas vivem e se baseiam no que lêem, vêem e consomem por meio das redes sociais, Reinaldo, do A286 segue provocando o senso crítico dos ouvintes, dos fãs e de quem acompanha o seu trabalho.

“Voltei no tempo, a cena era outra mesmo, é quente. Mas falando francamente o mercado entrega o que vende. Meus críticos não entende, eu os compreendo e até melhor assim. Há elogios que são insultos, depende de onde vim. Preciso me antecipar porque já me sinto atrasado, o mundo fazendo clone em I.A e vocês ainda preocupados em criar ‘fakezin’, em meus vídeos fazer comentários. Não adianta, o rap de verdade conhece o Reinaldo”, argumenta, de forma única e verdadeira.

“Era que o nosso estilo antigo está quase escasso. Quem tá ‘trampando’? Minha ascensão é inegável, enfim. Cada um vê o que quer, o desfecho é sempre o mesmo, né!? Somos todos expressões da mesma essência, marcha no que é”, entoa o rapper, questionando no refrão da track: “Quem é você, quando ninguém está vendo?”.

“Entre heterônimos nesse jogo de marionete, onde o discurso vale mais do que o exemplo. O meu legado é morrer tipo Dina Di, pela honra, não pelo reconhecimento", exalta o rapper Reinaldo, do A286, ressaltando a trajetória dessa guerreira do rap nacional, voz feminina das favelas contra a misoginia, opressão e objetificação social.

Lauren Priscila, eterna parceira da rainha Dina Di

Com voz potente, a rapper Lauren Priscila – uma das maiores vozes femininas do rap nacional – traça um paralelo com os tempos áureos do rap e do hip-hop.

Relembrando a eterna rainha do rap – Dina Di, que compôs junto a Lauren Priscila o grupo Visão de Rua, a rapper surge na segunda parte da letra de forma imponente, precisa e sem rodeios.

“Estrelas mudam de lugar, meu mano. Aqui ‘nois’ continua sangrando. Mesma tese, mesma ideologia. Ainda desacreditada, destinada a morrer trocando, armada de ódio e sede de justiça. Foda é que vejo várias de nós de chapéu, tirando, submetida a engano e a dignidade vencida”, expressa Lauren Priscila, na letra.

Rimando com propriedade e conhecimento, abordando até assuntos relacionados à mitologia grega, a rapper de São Paulo (SP) continua despejando rimas conscientes e realistas, conscientizando e fazendo os ouvintes se questionarem a cada momento.

“Com sorriso no rosto, os traumas ‘silencioso’ e o drama transformado em mitologia, quem dera eu fosse Themis pra condenar esses parasitas com imparcialidade e forma justa”, despeja poesia em forma de rimas Lauren Priscila.

Sem dúvidas mais um dos lançamentos do ano que entraram nos radares da rádio West Side.

Cleber Negão - Jornalista