M1, dialética da periferia
Despontando e se revelando como um dos novos talentos da cena musical do rap e do hip-hop, M1 anuncia novas tracks, despertando a nossa reflexão, estimulando o pensamento crítico e também a superação das adversidades e das dificuldades.

Com experiência de vida nas ruas de Brasília e das periferias do Distrito Federal (DF), o Artista Aarão, Vulgo M1 (O Mirador) traduz sua vivência nas ruas de forma única e singular em suas músicas.
Despontando e se revelando como um dos novos talentos da cena musical do rap e do hip-hop, o M1 já soma mais de 10 anos de trajetória no cenário underground, produzindo sons que despertam a nossa reflexão, estimulam o pensamento crítico e também a superação das adversidades e das dificuldades, celebrando a vida de maneira consciente e verdadeira.
“A inveja eu mato na tinta, um ponto pra cada linha, o olho divide os crias, dinheiro é apenas negócios “, diz um dos trechos da música “My GANG”.
Já na faixa “Confio em Ti”, M1 versa sobre a vitória.
“Família reunida assim que é, renascendo das cinzas um guerreiro de fé, sempre batalhador o Pai-(DEUS) que me ensinou, cultivou me abraçou corrigiu e não me abandonou“, diz o rapper brasiliense.
Primeiro contato com o rap e a cultura hip-hop
Sobre o início do seu trabalho como compositor e rapper, M1 se recorda da infância.
“O meu primeiro contato com o rap e o hip-hop foi ainda na infância. Eu cresci ouvindo o som que saía das caixas dos vizinhos e das ruas — Racionais MC’s, é claro, mas também os nomes que representam de verdade a cena da minha quebrada: Tribo da Periferia, Japão Viela 17, Rei – Cirurgia Moral, Álibi – Rivas & DJ Jamaika. Esses caras foram fundamentais pra minha formação", relembra M1, revelando o início da sua carreira.
“Eles mostravam que dava pra sair do anonimato, contar a nossa vivência, nossa luta, com rima, batida e verdade. Mais do que música, aquilo era um grito. Foi ali que nasceu o M1, ainda moleque, já com a cabeça fervendo de ideias e um sentimento forte de que eu também precisava falar”.
Sobre o significado do rap na sua vida e a função social da cultura hip-hop, M1 afirma: “O rap, pra mim, é mais do que música. É sobrevivência, é terapia, é resistência. Quando eu escrevo uma letra, eu estou falando por mim, mas também por vários que não têm voz. O rap me ensinou a enxergar a minha realidade com mais clareza e me deu coragem pra enfrentá-la”, afirma.
“Já a cultura hip-hop como um todo é ferramenta de transformação — ela educa, desperta, une. A função social do hip-hop é mostrar que a periferia pensa, sente e cria. Que a favela tem talento, tem arte e tem poder. Pra mim, o rap é o caminho e o hip-hop é o movimento que me fez acreditar que eu posso ir além“, comemora.
Trabalhos marcantes e próximos passos da carreira
Entre os trabalhos mais memoráveis de M1 está a música Noite de Fuga, gravada com a participação do Ananias, do CTS Kamikaz.
“Eu comecei a escrever essa letra logo depois que meu irmão mais novo, o Alceu — vulgo TUTU — foi preso. Foi um momento muito difícil da minha vida, e essa música nasceu como um desabafo, um grito de dor e resistência. Coloquei tudo o que eu estava sentindo ali, sem filtro. E o resultado foi muito verdadeiro”, recorda M1.
Sobre a participação especial em sua track, o MC afirma: “Ter o Ananias comigo nesse som foi uma honra enorme, porque além de ser uma referência pra mim, ele é um cara de muita humildade, que representa de verdade a essência do rap. Essa track me marcou porque mostrou que, mesmo na dor, a arte pode transformar”.
Segundo Aarão, Noite de Fuga foi um trabalho importante porque “nasceram de momentos reais, de vivências que eu carrego no peito”.
“No caso de Noite de Fuga, ela veio num dos períodos mais difíceis da minha vida, e escrever essa letra foi minha forma de não desmoronar. Foi ali que eu percebi que a música é mais do que arte — é cura, é resistência, é voz. Além disso, ela mostra pra muita gente que o que vivemos na quebrada merece ser ouvido. E quando alguém escuta, se identifica e sente que não está sozinho, é aí que o rap cumpre seu papel”, sintetiza M1.
A respeito dos próximos trabalhos, o rapper brasiliense anuncia as novidades que o público pode aguardar.
“No momento, estou com algumas músicas inéditas prontas pra soltar. Estou aguardando o momento certo, porque acredito que cada lançamento tem que vir com propósito, com o peso certo, na hora certa. Enquanto isso, sigo compondo, escrevendo novas letras, explorando ideias e experiências que ainda quero transformar em som. Meu processo é contínuo — vivo, observo, sinto e escrevo. O rap é isso: vivência que vira arte”, sintetiza M1.
Cleber Negão – Jornalista
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