Nativos Mc’s anunciam seu segundo EP - Do Chão da Aldeia pro Topo do Mundo
Com faixas e versos cantados no idioma kuikuru e em português, grupo oriundo da Aldeia Afukuri - no estado de Mato Grosso (MT) - simboliza e representa a resistência e luta dos povos originários do Brasil.

O grupo de rap Nativos MC’s, formado pela união entre os artistas Lil Urysse, Macc JB e Lil Mupury – indígenas da Aldeia Afukuri, da etnia Kuikuru, localizada no Alto Xingu, em Mato Grosso (MT), se prepara para lançar o seu segundo EP intitulado Do Chão da Aldeia pro Topo do Mundo, que conta com faixas e versos cantados em português e também no idioma kuikuru, do tronco linguístico karib.
O projeto é apoiado pelo Ministério da Cultura, por meio da Lei Paulo Gustavo, e também contemplará a realização de oficinas de rap e apresentações musicais do grupo em sua aldeia de origem.
“Eu comecei a cantar e escolhi o rap para divulgar a preocupação dos caciques, dos caciques tradicionais, com relação à nossa cultura, às nossas necessidades e aos nossos costumes”, afirma o rapper Macc JB, do Nativos MC’s.
Com um som voltado para a autoafirmação, com mensagens de cunho social e de fortalecimento da autoestima, da cultura dos povos originários e de resgate e preservação dos costumes nativos, o trabalho desenvolvido pelo grupo indígena reflete a função social do rap enquanto manifestação cultural, artística e forma de protesto das comunidades periféricas, suburbanas e de grupos que estão à margem da sociedade brasileira e também mundial.
“Nós cantamos em nosso idioma, misturado com português, para que as pessoas vejam e entendam que a nossa língua ainda existe e resiste”, reforça Macc JB.
EP Do Chão da Aldeia pro Topo do Mundo conta com 11 faixas inéditas
Com 11 músicas e todo peso e riqueza da cultura brasileira ancestral e originária, o EP Do Chão da Aldeia pro Topo do Mundo apresenta ao público a realidade dos povos originários brasileiros.
“O rap é uma forma de lutar, e nós acreditamos que, com o rap, conseguimos alcançar um público maior para falar das dificuldades que nós enfrentarmos em nosso cotidiano”, defende o rapper Lil Mupury.
“O bom é que o Ministério da Cultura reconhece o nosso trabalho, e nós ficamos muito felizes com isso”, completa o artista, do grupo Nativos MC’s.
O trabalho teve inicio nas aldeias e hoje é reconhecido em todo o Brasil e internacionalmente
O rapper Lil Urysse acredita que os povos originários indígenas podem utilizar as novas formas de expressão e manifestação intelectual, cultural e artística para dar amplitude e visibilidade à luta desta comunidade, que ainda busca sua plena integração à sociedade brasileira.
“Quando elaboramos o nosso projeto, lá na aldeia mesmo, eu pensei: ‘Se isso der certo, nós iremos realizar o nosso sonho. De fazer poesias aqui na aldeia, de realizar oficinas com toda a nossa comunidade para promover e perpetuar a nossa cultura”, explica o rapper Lil Urysse.
Para ele, realizar um show dentro da própria aldeia significa a realização de um sonho pessoal e coletivo do grupo Nativos MC’s.
“Nós ainda não fizemos isso e realizaremos esse sonho através desse nosso projeto, apoiado pelo Ministério da Cultura e por toda a nossa comunidade”, comemora o rapper, explicando que mesmo contando com o apoio do Estado brasileiro, o grupo ainda enfrenta muita resistência ao seu trabalho e à sua integração à sociedade.
“Tem muita gente que ainda diz que o nosso lugar não é aqui, na cidade, nas faculdades. Essa visão é muito limitada e não reconhece a nossa evolução e adaptação das culturas indígenas. Muitos jovens, como eu, estão encontrando novas formas de expressão. E nós, artistas da nova geração, frequentemente usamos balaclavas e colares tradicionais, cocares, criando uma estética que une tradição e modernidade”, completa Lil Urysse.
Segundo ele, “o arco é o papel e a flecha, a caneta”. “Antigamente, os nossos ancestrais lutavam usando arco e flecha. Hoje, nos lutamos usando papel e caneta”, finaliza o rapper do grupo Nativos MC’s.
Cleber Augusto, jornalista.
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