Kmila CDD lança álbum "Quebra-Cabeça"
Com participações de Cynthia Luz, DK47, Iza Sabino e Tasha & Tracie, disco conta com seis faixas pesadas, três delas instrumentais, que resgatam e celebram a força e o poder do rap verdadeiro e de mensagem.

A rapper carioca Kmila CDD lançou no dia 01 de agosto (01/08) o álbum “Quebra-Cabeça”, com seis faixas, participações de Cynthia Luz, Tasha & Tracie, DK47, Iza Sabino e produção de Daniel Shadow e Madre Beats.
Irmã do falcão negro MV Bill, que em 2025 lançou os projetos “Na Visão do Morador”, “Na Visão do Morador – Bill Sessions) e “O Nosso Rap”, em colaboração com uma das lendas do hip-hop brasileiro, o rapper e BBoy Thaíde, Kmila CDD expõe toda a potência das bases de BoomBap, Drill e rap raiz com rimas precisas, ideias calibradas e lírica extremamente afiada.
“Não Vá Se Enganar” narra com precisão, realismo e sentimento a realidade de milhares de mulheres no Brasil
Na primeira track do álbum, Não Vá Se Enganar”, a rapper da Cidade de Deus (RJ) narra a realidade e a rotina de milhares de mulheres no Brasil cujos companheiros encontram-se privados da liberdade, e que precisam seguir a vida com firmeza, determinação e força de vontade para superar obstáculos e progredir pessoalmente e também coletivamente.
“Madrugada só, mais uma noite fria. Que falta faz sua presença, a sua companhia. Mais de cinco anos com você atrás da ‘tranca’, a sua ausência me machuca e o sangue não estanca. Você sabe muito bem o quanto é deprimente, no dia de visita alguém passando a mão na gente. Mas é o que tem, é o que você deixou. Quem ‘tava’ contigo no corre, te abandonou”, inicia os versos Kmila CDD, na primeira track do disco.
Com batida, levada, letra e voz imponentes, a rapper segue trilhando a mensagem da faixa, que conta com participação de DK47.
“Menos eu. Sou seu ‘fechamento”. Por causa disso vivo a base de medicamento pra cabeça. Depressão, ansiedade, mas ‘tô’ de pé pra não falhar quando cantar a sua liberdade. ‘Vamo nóis’, que todo domingo eu vou ‘tá’ lá pra te visitar, depois na igreja eu vou orar. Vou pedir proteção ao meu pai poderoso pra livrar sua mente da tentação do ‘maldoso’”, narra a artista, contando a história de milhares de mulheres em todo o mundo.
“Esse é o caminho que você procurou. Não vá se enganar. Não se prenda nos meus ‘papo’ que você ignorou. Não vai se enganar. Não se prenda nos meus ‘papo’ que você ignorou, isso não vai ajudar. Nem era pra ter entrado, mas agora que está dentro, então vê se fica na moral. Bom comportamento, aproveitamento pra quando você for ganhar a sua condicional”, diz o refrão da track que abre o disco.
“Madrugada fria, os pensamentos disparam. Lembro, tu ‘dizia’: Pára. Mas eu nunca te escutava. Quis mostrar pra todo mundo como é ser homem na rua, esqueci que eu ‘tava’ sendo um moleque dentro de casa. Dois ‘alemão’ na Sahara, um deles puxou uma arma, na hora eu pensei em nada, só fui raciocinar depois. Que eu não era porra nenhuma do tal pitbull do chefe, eu sou literalmente um ‘merda’ dormindo dentro do ‘boi’”, completa a track DK47, retratando o arrependimento e as consequências das escolhas feitas por cada pessoa durante a vida.
“Mudar e Correr” traz participações de Cynthia Luz e Iza Sabino em track poderosa e autêntica
Na segunda faixa do disco, “Mudar e Correr”, Kmila CDD traz ao público o poder e harmonia das vozes das rappers Cynthia Luz e Iza Sabino, junto à mensagem de empoderamento, conquistas e ocupação de espaços de fala e de poder pelas mulheres, alicerce de todas as famílias e da sociedade em geral.
Com batida marcante, que remete ao clássico BoomBap, gênero ramificado do rap e do movimento hip-hop, a música é uma vasta motivação e inspiração para todas as rainhas e guerreiras deste mundo.
“Feminina, de acordo com o clima, balão que ‘tá’ aceso vai na direção de cima. Sobrevivente eu sou, não me cancelo. Prego que se destaca, na cabeça vai martelo. (Vai!) Eu vi de perto, gente que desistiu. Pisoteada pela vida que a droga destruiu. Sonhos que ficam pra trás, mas o meu eu construí. E quando meses giram, mais internamente eu evoluí”, canta Kmila CDD.
Incentivando a união e a coletividade em prol da superação, crescimento e evolução conjunta, a rapper da Cidade de Deus continua cuspindo barras de fogo em forma de rimas autênticas, cirúrgicas e precisas, alcançando máxima de eficiência na comunicação e na expressividade.
“’Tamo’ juntas! Não aceito qualquer tipo de pergunta. Disposta a fechar naquela construção conjunta. Que faz o nosso crescimento, por isso sou ‘fechamento’. ‘Tá ligada’”, resume a irmã do Falcão Negro MV Bill.
“Foi necessário mudar, foi necessário correr. Não tem ninguém pra contar, eu que fiz acontecer. Pode até me julgar, que Deus vai me proteger, sou a verdade no olhar, vontade de viver”, diz o refrão de “Mudar e Correr “.
Cynthia Luz e Iza Sabino assumem a track com propriedade, credibilidade e responsabilidade
A segunda parte da faixa é conduzida com maestria e representatividade pela rapper Cynthia Luz, que dá continuidade ao raciocínio e à ideia repassada aos ouvintes pela música.
“Na ponte do lápis a conta não fecha. Você sabe que a vida ‘tá’ com pressa. Já perdi meu tempo, hoje não tem essa. Minha filha ‘tá’ olhando da janela. Perguntando: ‘Mãe, por que você ‘tá’ indo? Filha, eu juro eu ‘tô’ me dedicando. Pra fazer você ter muito mais que ouro, que seja livre e viva muitos anos”, rima majestosamente Cynthia Luz.
A última parte da track segue após o refrão, com a rapper Iza Sabino trazendo para a atmosfera sonora o peso de suas rimas cadenciadas e de sua voz grave e imponente.
“Abelha não perde tempo explicando pra mosca porque mel é melhor que merda, e nem pra onde voa. Eu ‘tô’ de boa de papo furado e não me provo pra ninguém, eu sei o que sou, por isso sempre ‘tô’ além. Isso não é novela e não preciso de mais sombra. Minha grana é prioridade, não quero minha família passando necessidade”, conscientiza Iza Sabino em forma de versos líricos.
E conclui: “Na verdade, eu me blindei mas eu não fugi do perigo. Eu sou grande pra bater de frente mesmo sem amigo. Eu sou pensante, eu sigo avante e não ligo. A humildade está em todos os lugares que eu abrigo”, sintetiza a mensagem da música a cantora Iza Sabino, finalizando a sua participação com maestria e com uma mensagem de exaltação, união, admiração e coletividade direcionada à comunidade negra periférica mundial.
Terceira track “Jogo Passageiro” fala sobre superação, determinação e sobre o universo feminino no hip-hop
A terceira faixa do disco, intitulada “Jogo Passageiro”, traz uma reflexão sobre a realidade feminina no universo do rap, da cultura hip-hop e também da vida em sociedade.
A música fala sobre superação, foco, persistência, autoafirmação, estimulando e incentivando as mulheres de toda e qualquer geração a lutarem e conquistarem a sua autonomia e independência.
“Só beat pesado, BoomBap, me ‘amarro’. Levando minha filha pra escola, no carro. Reflita, fico pensando, como é bom estar viva. Mantendo o meu legado, deixando minha mente ativa. Eu vivo leve, tudo é passageiro e a vida é muito breve. Sem desespero, sem pressa, pra início de conversa. Se vier na estrada errada o nosso papo se atravessa. Não me estressa”, rima Kmila CDD em “Jogo Passageiro”, faixa que conta com a participação do duo Tasha & Tracie.
“Isso é progresso. Preta ‘cabulosa’, ‘tô’ aqui. Conexão da CDD (Cidade de Deus-RJ) com São João de Meriti. Baixada (Fluminense) que se levanta quando a preta canta, se não for meu ‘fechamento’ pega o beco, se adianta. Não vai ficar e atrapalhar minha energia, meu movimento. Jogo no talento no meu dia a dia. Corrido, mas não sofrido. Essa época já era, sobrevivi na selva agindo como pantera. Pretinha lá da favela, já tinha noção de bela. Calando a boca do ‘pela’ que apela pra falar dela. Muita luta pra alcançar a minha glória. De pé. Eu ‘tô viva, muito viva! Então respeita a minha história”, zera o jogo Kmila CDD.
“Nesse jogo, tudo é passageiro. Também sou passageira, e fico ligeira com a maldade. Deus é mais! Eles plantam ‘mancada’, nos colhemos bondade! Sai da frente! ‘Tamo’ na velocidade”, diz o refrão da música.
“Pra que a emoção não me quebrasse me tornei apática. Sobreviver não é fácil, cada um com sua tática. Pronta pra batalha, não perdemos essa guerra. Eu venci! Mulher preta, independente, de favela”, canta a rapper Tasha, emendando os versos do refrão.
Tracie aparece logo em seguida soltando barras pesadíssimas e originais na punchline.
“Me sinto grande, já me vi fraca. Me tornei forte com as barras. Já apontei lápis com faca, hip-hop é minha escola, ainda frequento as aulas. Ganhei notas com rimas, mudei a vida da minha família. Fazendo som hoje, com minha ‘ref’, tudo graças ao rap. Foco nunca importa, tudo o que alimenta cresce. Comigo, só quem soma, antes das coisas mudarem, eu que mudei com as coisas”, rima Tracie, do duo Tasha & Tracie.
Processo criativo do disco “Quebra-cabeça”
Sobre o processo criativo e de produção do disco, Kmila CDD faz referência direta ao título do disco “Quebra-Cabeça”.
“Fui montando peça por peça, como se estivesse resolvendo um quebra-cabeça. Desde o ‘beat’, passando pelas participações, até os temas que queria abordar, nada foi colocado por acaso”, afirma a irmã do falcão negro MV Bill.
Cleber Negão - Jornalista
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