Ludi Um (RJ) lança single "Perneta" em noite única em Brasília (DF)
Faixa faz parte do EP "HiperbólicoZungu", que resgata a essência da musicalidade negra universal e inspira-se na vivência do artista no Morro do Dendê, complexo de favelas localizado na Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ). Também se apresentaram o coletivo Ritual Sonoro (DF) e o DJ Fábio ACM (RJ) no Armazém do Campo, em Brasília (DF).

Em uma noite cheia de sentimentos e calor humano, tomada por ares de nostalgia e intimidade, o artista carioca Ludi Um lançou o seu single "Perneta" – um som que homenageia o malandro suburbano do Rio de Janeiro (RJ), figura marcante na infância do artista.
A música faz parte do LP "HiperbólicoZungu", que resgata a essência da musicalidade negra universal e tem previsão de lançamento para o segundo semestre deste ano.
Origem e o início na música
Nascido na comunidade do Dendê, no estado do Rio de Janeiro (RJ), Ludi Um explica a mensagem transmitida por seu trabalho mais recente, abordando todo o processo criativo e citando as influências que permeiam tanto o single "Perneta" quanto o disco cheio (LP).
“Eu fui muito agraciado pelos Orixás por ter uma vizinhança lá no Morro do Dendê (RJ) super musical. Eu era vizinho de uma galera que tinha equipe de som, que se chamava The Harleys, que é aquele cometa que passa a cada 76 anos, que tocava The Pharliaments, Funkadelic, Tim Maia, Cassiano, a nata da Soul, música mundial”, conta o artista.
“Tinha um terreiro de Candomblé, que os xirês me encantavam. E era um mundo negado, porque eu era de uma família católica e eu não podia frequentar. Mas os tambores me chamavam o tempo inteiro. Tinha também uma Casa da Benção, que tocava música evangélica, uma escola de samba e um clube, que é o Clube do Cocotá, que tinha nas tardes de domingo um evento tocando samba-rock”, lembra Ludi Um.
O artista menciona nomes como Luiz Vagner Guitarreiro e Bebeto, duas grandes referências no samba-rock, genero mundialmente consagrado pelo mestre Jorge Ben Jor, também citado pelo artista como grandes influenciadores do seu trabalho.
Influências da música Soul, Groove e MPB
Foto: Thamy Frisselli - @frisselli
Toda essa mistura de influências de diferentes gêneros musicais revelam a riqueza sonora acumulada por Ludi Um durante sua vivência nas favelas do Rio de Janeiro (RJ), mais especificamente em sua comunidade, o Morro do Dendê, Complexo de favelas situado na parte central da Ilha do Governador e que estende-se pelos bairros do Moneró, Jardim Carioca, Cocotá, Cacuia, Tauá e Bancários, na Zona Norte do estado.
“Quando você mora dentro de uma favela, e em um barraco, com as paredes fininhas, você vive dentro de uma esponja sonora. Quem está lá fora e toca uma música, você dentro de casa escuta aquela música. E vice-versa. Então o meu som é isso, um amálgama de todas as coisas que eu vivi e ouvi durante a minha infância e adolescência, no Morro do Dendê (RJ), na Ilha do Governador”, sintetiza Ludi Um, em referência ao seu single "Perneta" e ao seu próximo LP – "HiperbólicoZungu", que será lançado no segundo semestre deste ano.
“Eu não costumo dizer que sou artista de um estilo específico. Eu faço música clássica do subúrbio ou, em termos mais reduzidos, música barraco, que é essa música que tem todas as influências possíveis e imagináveis, sem limite pra pensar. Tem coisas que me influenciam mais do que a música, como a literatura, a arte visual e o cinema. Então Ludi Um é a mistura de todos os sons pretos que a música popular mundial, que nós chamamos de música Pop, que é uma música africana. Não tenho nenhuma dúvida disso. Existe música erudita e música popular, e música popular é África”, resume o artista carioca.
Ritual Sonoro abre shows da noite em alta frequência
Foto: Thamy Frisselli - @frisselli
Nascido em Brasília (DF) no ano de 2024, o coletivo de raggamuffin, Ritual Sonoro, idealizado por Erik Schnabel e Yuri Pleno, alia música, sound system e espiritualidade em seu trabalho.
O grupo conta com o reforço do DJ carioca Fábio ACM. Dessa colaboração nasceu o single "Unidade", lançado no dia 17 de maio, marcando o início de uma nova fase para o coletivo.
“O Ritual Sonoro consiste em uma interseção de projetos culturais aqui da cidade. São 10 anos de experiência movimentando a cena no DF e nós decidimos unir essas forças para articularmos as nossas ações e gerar novas possibilidades, encontros culturais onde a gente celebra essa unidade em prol da diversidade, em torno da cultura reggae e do hip-hop”, disse Erik Schnabel, do Ritual Sonoro.
Com cinco faixas, o próximo disco do coletivo, que está em fase de conclusão, tem lançamento previsto para o segundo semestre do ano e reforça a proposta do coletivo de unir estilos, vivências e artistas em uma sonoridade plural.
O EP, intitulado Ritual Sonoro – Vol. 1, conta com participações de peso, entre elas o MC e produtor Afroragga (DF), MC Lápide (RJ), Lica Tito (RS) e o jamaicano Ras Ash (Jamaica), e produção de Fábio ACM, com apoio do produtor brasiliense Raffa Santoro, uma das lendas e uma das maiores referências do rap e do hip-hop no DF.
Fotos: Reprodução
“A nossa música promove justamente isso, uma conexão com a linguagem das ruas, e nós representamos, como Ritual Sonoro, o raggamuffin, que é essa intersecção entre a linguagem do hip-hop e do reggae”, destaca Yuri Pleno, explicando que o hip-hop tem em sua fundação uma ligação muito profunda com a cultura jamaicana.
“Então nós carregamos a cultura Sound System, nós temos os MC’s, que são os ‘toasters’, o DJ, que é o Selecta, o instrumental ou Beat, que é o Riddim, e por meio desta conexão com o grupo Quinto Andar (RJ), do MC De Leve, eu conheci o Tigrão Big Tiger, e ele nos apresentou o DJ Fábio ACM, hoje nosso Selecta e nosso produtor”, conclui Pleno.
DJ Fábio ACM, a conexão entre o Rio de Janeiro (RJ) e o Distrito Federal (DF)
Nos intervalos da festa Negrume Beat, quem comandou as pickups e ditou o clima da festa foi o DJ Fábio ACM, que conta como iniciou sua vida artística.
“Eu tenho um histórico antes de começar a praticar. O meu tio era DJ e tinha uma equipe de som, entre os anos 70 e início dos anos 80, chamada Status Disco Dance, que foi a primeira equipe de funk (no Brasil) antes e depois do Miami Bass (subgênero da música hip-hop que se tornou popular nas décadas de 1980 e 1990), entre os anos de 1979 e 1989, na Rocinha, que é considerada a favela mais populosa do país”, conta Fábio ACM, revelando suas influências na música periférica brasileira colecionadas desde cedo.
“E aquilo me influenciou. As equipes de som começaram a fazer programas de rádio, e lá tinha uma rádio, chamada Rádio Imprensa, que pegava (sinal) na cidade toda, e as equipes de som tinham horário na rádio, e eu ouvia o meu tio tocar, até ele vender a equipe de som. Quando ele vendeu, eu herdei os discos do meu tio”, recorda o artista.
“A discografia que eu herdei era basicamente o soul music, disco funk, discotech também, e muita coisa de Miami Bass após o gênero chegar tanto aqui em Brasília, como no Rio de Janeiro”, detalha Fábio ACM, explicando que os mesmos discos que tocavam no Distrito Federal (DF) em meados de 1986, 1987 e 1988, tocavam nos bailes do Rio de Janeiro (RJ).
“É por isso que de vez em quando tem baile aqui do Stivie B, Tony Garcia, da Trynati, do Freestyle. Porque as mesmas músicas que tocavam lá, tocavam aqui”, recorda.
“Então essa é a minha influência mais forte. Eu até já tocava hip-hip, porque Miami Bass pertence ao hip-hop, ele é uma vertente do rap, mas até então eu não sabia que aquilo tinha um envolvimento político, que é o que a cultura hip-hop traz pra música, as pautas políticas”, conclui o DJ Fábio ACM.
Cleber Negão – Jornalista
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