Negra Li celebra 30 anos de trajetória com o álbum “O Silêncio que Grita” e reafirma sua arte como instrumento de resistência
Com três décadas de estrada, Negra Li transforma vivências dolorosas em força poética, e volta ao centro do palco com um trabalho potente, político e pessoal

Poucas artistas conseguem resistir ao tempo, às mudanças do mercado fonográfico e, sobretudo, aos silenciamentos históricos impostos às mulheres negras dentro da indústria musical. Negra Li não apenas sobreviveu , ela floresceu, enfrentou o mundo de peito aberto e transformou cada obstáculo em combustível criativo. Em 2025, a cantora comemora 30 anos de carreira com o lançamento do álbum “O Silêncio que Grita”, uma obra que carrega nas entrelinhas dor, ancestralidade, e sobretudo, resistência.
De São Paulo para o Brasil e do Brasil para a luta
Nascida na zona norte de São Paulo, Negra Li começou sua carreira nos anos 1990, despontando no cenário do rap nacional ao lado do grupo RZO (Rapaziada da Zona Oeste). Num tempo em que poucas mulheres, e ainda menos mulheres negras, tinham voz no hip-hop, ela foi rompendo as barreiras com rima, melodia e uma presença de palco inconfundível. Desde cedo, seu talento e sua postura desafiaram padrões e abriram espaço para uma geração inteira.
30 anos de transformação, resistência e arte
Três décadas depois, o que poderia ser apenas uma celebração de carreira se transforma em um manifesto artístico com “O Silêncio que Grita”. O álbum é uma síntese madura de tudo que Negra Li representa: uma artista plural, uma mulher negra consciente de seu lugar no mundo e uma voz ativa contra o racismo, o machismo e a opressão estrutural.
Cada faixa do álbum é uma carta aberta aos que tentaram calá-la e aos que ainda tentam. Negra Li canta sobre violência, amor próprio, superação, maternidade, identidade e fé. O silêncio ao qual o título se refere não é ausência de som, mas sim a tentativa sistemática de apagar vozes como a dela. Mas, ao invés de se calar, ela grita por meio da arte.
Um grito que reverbera gerações
Em suas letras, a artista revisita cicatrizes e memórias, mas também oferece cura. É um trabalho sensível e, ao mesmo tempo, direto. Canções como “Preta Forte”, “Sem Permissão” e “Quem Vai Me Parar?” são verdadeiras declarações de guerra contra uma sociedade que insiste em marginalizar corpos negros, especialmente os femininos.
Parcerias que somam
“O Silêncio que Grita” também é marcado por colaborações poderosas com nomes como Karol Conká, Rincon Sapiência, Drik Barbosa e Tássia Reis, artistas que, assim como Negra Li, utilizam a música como extensão do ativismo. As participações não são apenas estratégicas, são simbólicas. Elas demonstram a força de uma rede que se retroalimenta, onde uma levanta a outra. Cada feat é mais um tijolo na construção de um legado coletivo.
O impacto vai além da música
Negra Li sempre usou sua visibilidade para levantar pautas urgentes. Seja nas redes sociais, nos palcos ou em entrevistas, ela fala sobre racismo institucional, misoginia, desigualdade e os desafios de ser uma mulher preta em um país que ainda falha em reconhecer suas feridas coloniais.
Com o novo álbum, ela denuncia e inspira. O trabalho artístico se desdobra em rodas de conversa, painéis e ações sociais e, o silêncio que grita passa a ser não é apenas dela, mas o de muitas. E agora, esse grito ecoa alto.
Um marco que entra para a história
Lançado em um momento crucial do país, “O Silêncio que Grita” é um documento histórico, uma obra que será referência para as próximas gerações. Negra Li mostra, mais uma vez, que a arte é uma poderosa ferramenta de transformação social, e que, mesmo quando tentam calar, a resistência encontra outras formas de se manifestar.
Ao completar 30 anos de carreira, Negra Li celebra uma história, escrevendo um novo capítulo para a música brasileira e reafirma que sua voz é, sim, um grito necessário em um mundo que ainda insiste em silenciar mulheres como ela.
Por Redação
Comentários (0)